Limites claros e modelos positivos evitam sensualização.
Os pais têm de avaliar se não incentivaram o comportamento
que condenam.
Cada vez mais cedo, muitas crianças têm se interessado em
reproduzir hábitos e comportamentos do universo adulto. Não são raras as
meninas que usam maquiagem e imitam roupas e gestos das mães. Assim como
meninos que reparam como essa ou aquela colega de classe é bonita.
"Vivemos em um ambiente social em que há muito mais
liberdade sexual e os adultos namoram e se beijam na frente das crianças com
naturalidade, o que de forma alguma é ruim. O que acontece é que elas crescem
em um contexto muito mais sensual do que há 30, 40 anos", afirma a
educadora sexual Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, centro de
estudos da sexualidade.
Segundo a especialista, a mudança no papel das mulheres é
outro fator que causa impacto nesse cenário. "As meninas imitam suas mães.
Só que essas mulheres, ou pelo menos a maioria, não passam mais tanto tempo em
casa. Muitas vezes estão separadas e à procura de um namorado. Então, de certa
forma, é natural que essas crianças brinquem de trabalhar fora e que tenham
mais vaidade do que as de outras épocas, que cresciam imitando suas mães
cozinhando e limpando a casa", diz Maria Helena.
Por tudo isso, para a especialista, alguns comportamentos
nem sempre poderão ser modificados. Porém, nos casos em que as crianças
mostram-se extremamente interessadas em situações e conteúdos adultos, a ponto
de abrirem mão de seus passatempos de costume, a intervenção dos pais é
necessária.
Uma criança que começa a se tocar de forma compulsiva, em
locais públicos, ou que acessa conteúdos relacionados à sexualidade, na
internet ou na televisão, obviamente precisa de um acompanhamento mais próximo
por parte da família.
"A criança é curiosa por natureza e a tecnologia coloca
à disposição dela todo o tipo de informação. Então, se os pais não
selecionarem, ela corre o risco de se expor antecipadamente a conteúdos que
ainda não está preparada para assimilar", diz a psicóloga Juliana Bonetti
Simão, do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade). Assim, conhecer a rotina
da criança, saber quais são seus interesses e como se diverte no seu tempo
livre é essencial.
Ao perceber que um determinado filme, jogo ou música não é
apropriado para a idade, o melhor é tentar explicar isso à criança, porém sem
repreendê-la, pois ela não tem o senso crítico necessário para fazer a
avaliação que os adultos fazem. "Repreender por repreender pode mitificar
o tema e estimular ainda mais a curiosidade, pois aquilo que se torna proibido,
por vezes, torna-se também mais instigante", declara Juliana. A
comunicação firme, porém respeitosa, é sempre a melhor estratégia ao tratar
desses assuntos.
Vem brincar comigo?
Outra alternativa, além de ajudar a criança a selecionar
suas fontes de lazer e informação, é organizar a rotina familiar de modo que
ela tenha atividades, como aulas de esporte e passeios culturais, ou
simplesmente um tempo para brincar com os pais. Esses programas vão permitir
que ela receba referências diferentes das adquiridas pela TV, pelo computador,
pelos jogos eletrônicos e pelo seu círculo social. "O simples fato de
oferecer a sua companhia para brincar ou de mostrar que existem outras
atividades, mais de acordo com a idade da criança, podem fazer com que ela
migre naturalmente seus interesses, sem que os adultos precisem fazer mais
nada", afirma a psicoterapeuta infantil Anne Lise Scappaticci.
Por fim, é necessário que os pais não estimulem ou valorizem
os comportamentos da criança considerados inadequados. "A família precisa
refletir se não ‘patrocinou’, mesmo sem se dar conta, algumas posturas que
agora condena. Alguns adultos acham engraçado quando a menina começa a repetir
a coreografia daquela dança sensual ou quando o filho pequeno começa a observar
as meninas com segundas intenções. Só quando esse comportamento começa a ficar
repetitivo é que se dão conta de que deveriam ter colocado alguns limites,
talvez mais cedo", declara a psicóloga Maria Helena Masquetti, do
Instituto Alana,organização sem fins lucrativos (ONG) que atua na defesa dos
direitos de crianças e adolescentes.
"As regras de comportamento na sociedade são noções
adquiridas, ensinadas. Por isso mesmo é fundamental que a criança receba
orientação em casa, proteção e modelos positivos. Se tiver tudo isso, seu
desenvolvimento será tranquilo e ela estará segura, independentemente da
geração a que pertence", afirma Juliana, do Inpasex
Fonte - http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2013/02/09/limites-claros-e-modelos-positivos-evitam-sensualizacao-precoce
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